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Channel: Música – Viés | O outro lado da rede
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Feito com testosterona

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O Matanza lança disco novo em novembro. Não é uma notícia qualquer, mas um anúncio a ser celebrado com mil vivas. Nessa prisão losermânica do rock atual, tudo que vem dos beberrões do Matanza é uma esperança de dias (ou sons) melhores.

Não se trata nem de músicas inéditas – mas quase isso. É um apanhado do que ficou pra trás e estava condenado a um injusto esquecimento. São músicas das demos lançadas em 1998 e 1999, Terror em Dashville e De Volta a Tombstone, e outras nunca gravadas ou que sequer ganharam arranjo. O disco, chamado Thunder Dope, sai pela gravadora Deck.

Novo ou velho, o que interessa é que o Matanza mantém vivas características que os roqueiros de hoje esqueceram. Cantar sobre cerveja, caminhões e sexo quase os faz ser estranhos nesse meio. Se um dia o rock era sexy e o sertanejo cantava dores-de-cotovelo, hoje os sertanejos-universitários estão mais perto das calcinhas de suas fãs do que os roqueiros (chora, Mick Jagger). É claro que, em questão de sex appeal, o Matanza e seu vocalista, o bardo ruivo Jimmy London, não ganham muitos pontos. Mas o sexo está lá, nas melhores putas do Alabama ou no clipe de Pé na Porta, Soco na Cara.

Não se vá dizer, é claro,  que não existe amor em sp nas letras da banda. Pelo contrário, há paixões em grande parte das músicas. A diferença é que não é algo choroso e pidão, tônica das baladas românticas atuais, mas um amor fervoroso, agitado, um amor rock’n'roll. São romances explosivos, vividos com intensidade. “Quanto mais feio, quanto mais sujo, quanto mais forte o bafo, mais ela gosta de mim”, diz uma música. Mesmo os relacionamentos que acabam são motivos de brigas e bebidas em vez de choro.

Não se pode esperar bom-mocismo do Matanza. As letras discorrem várias vezes sobre ódio e violência e os perversos são, na maioria das vezes, os personagens principais. Numa música Jimmy diz “Eu não tiro a razão do assassino em vários casos que vi”. O capeta também dá as caras – e tem companheiro mais fiel ao rock que ele? Em meio a bebidas e baralhos, lá aparece o chifrudo que, é claro, é parceiro dessa gente ruim: “E o diabo prometeu você pra mim, eu prometi que vou fazer você sofrer. Eu tenho a eternidade toda pra fazer isso daqui ficar pior”.

Enquanto o rock atual sorri e sofre por amor, o Matanza bebe e briga. Sem pedir favor ou desculpas por alguma ofensa. O Matanza não gosta de ninguém e diz, em alto e bom som (literalmente), que o rock ainda quer ser desafiador. Talvez até gostem de ser assim, grosseiros e feios em meio a tanta gente educada e chata. O que interessa à banda é, enfim, cantar a odiosa natureza humana. Sobrevive no Matanza o rock com testosterona.


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